Saúde

Agilidade para uns, demora para outros

Novo modelo de acolhimento nas UBSs divide opiniões entre usuários e profissionais

Carlos Queiroz -

Desde a última semana, a Rede de Atenção primária de Pelotas está operando em um novo sistema de atendimento. O chamado "Acolhe Bem", classifica os casos conforme sua gravidade. A novidade tem dividido a opinião entre os usuários e as equipes de médicos e enfermeiras que atuam nos locais.

Para Carlos Eduardo Chagas, 53, a iniciativa é excelente. O advogado foi atendido na Unidade Básica de Atendimento Imediato (Ubai) Lindóia e, como estava com a pressão alta, foi classificado na cor amarela, como caso moderado. "Fui bem atendido, parece que se encaixa muito bem no que a gente precisa. É muito mais simples do que eu me deslocar até o posto e retirar a ficha", comenta.

A opinião já não é a mesma entre outros usuários da unidade. Com muita dor no pé, Cinara Ferraz, 52, conta que chegou ao local ao meio-dia. Passava das 15h quando a reportagem esteve na Ubai e ela ainda não havia sido atendida. Situação semelhante à vivida pela dona de casa Fernanda Rodrigues, 22, que aguardava atendimento há três horas. "Ela está com muita dor no pé e eu estou com muita dor no ouvido. Como podem diagnosticar quem merece um atendimento na frente se nós duas estamos com muita dor? Ninguém está aqui porque quer", reclama Fernanda.

Entre a equipe que atua na Ubai, a opinião também é dividida. A médica plantonista Paula Saldanha preferiu não opinar sobre o novo método adotado, mas disse que os profissionais deveriam ter sido questionados sobre a mudança. "Eu não fui consultada, só impuseram essa maneira de atendimento. A partir do momento em que a gente oferta um trabalho, eu acho que até como uma forma de respeito com o profissional, a gente teria que ser ouvido. Tem muita coisa para ser discutida", comenta. Já a enfermeira Rosana Radtke defende a iniciativa. "Se tu precisas de uma receita, eu posso te agendar para amanhã, então não precisa ficar esperando aqui a tarde toda, tem esse benefício. Tem muito mais atendimento agora, o sistema acolhe todos que chegarem", explica.

A demanda é grande

Na Unidade Básica de Saúde (UBS) Guabiroba, o novo método, combinado com a falta de dois médicos, tem exigido mais da equipe. Segundo a chefe da unidade, Inajara Canieles, um dos médicos está de férias - retorna só em maio - e o outro deixou o local há dois anos e sua vaga não foi preenchida. Com isso, o único profissional que está atuando ficou responsável por todos os atendimentos. Ela conta que quem procurou o posto ontem e apresentava um quadro sem gravidade foi agendado para ser atendido somente no dia 20 do próximo mês.

"A demanda é maior do que a gente consegue ofertar, mas estamos conseguindo dar vazão a quem vem. Claro que algumas pessoas saem descontentes, mas essa função de chegar às 4h da madrugada para conseguir atendimento acabou. A gente nota que foi tranquilo até o momento em relação à aceitação das pessoas", conta.

Um modelo que não é novidade

Na UBS Bom Jesus, a única novidade foi apenas na inclusão das cores, pois o sistema de acolhimento já é uma realidade há cerca de três anos, segundo a enfermeira Cristiana da Silva. Atuando no local há cinco anos, ela passou pela transição no formato de atendimento e conta que a contribuição da comunidade é fundamental. Atualmente os moradores já sabem como é o funcionamento do local. "Dá a oportunidade da população ter mais acesso e tira aquela função de vir de madrugada pro posto. Isso não tem mais", ressalta.

A médica residente Luana Preuss também é a favor do método. "Isso é o que precisa ser feito, até para desafogar. Daqui a pouco vão tudo para o PS [Pronto Socorro] com uma demanda que poderia ser resolvida na Unidade Básica", explica.

Mas para o aposentado Antônio Fonseca, 77, ter que agendar com uma semana de antecedência para retirar a prescrição de seus medicamentos não agrada. "Eu tenho que vir quase dias antes para pegar uma receita. O atendimento é zero. Tô falando do sistema e não dos funcionários", comenta.

O que diz a prefeitura

De acordo com a diretora da Rede de Atenção Primária do município, Luciana Soares, o acolhimento traz ganhos no atendimento à comunidade. "Além de melhorar o acesso e a humanização, isso também traz o reflexo em toda a rede. Porque quanto mais pessoas tiverem acesso à Atenção Primária, menor será a superlotação de pessoas que não precisam estar na UPA [Unidade de Pronto Atendimento], no Pronto Socorro. Os benefícios são inúmeros para os usuários e para a rede", explica.

Sobre a contratação do médico que falta na UBS Guabiroba, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que está sendo providenciada, mas que ainda não há previsão, pois entre os editais que foram abertos a procura de profissionais ainda é baixa.

Azul - Casos sem emergência, que serão agendados

Verde - Casos sem emergência, que serão atendidos no mesmo dia

Amarelo - Casos moderados, que serão encaminhados à Ubai ou à UPA

Vermelho - Casos de risco de vida, que será encaminhado ao Pronto Socorro ou será chamado o Samu

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